Olá, pessoal.
Sei que não é muito legal desenterrar discussões antigas, mas considerando que é só uma questão de tempo até essa "proposta" surgir novamente, eu gostaria de registrar aqui a minha opinião.
variedades escreveu:Isso é absolutamente correto. Ou é justo aquele adolescente que baixa porno dia e noite na internet, usando 100Gb de banda pagar o mesmo que alguém que só acessa e-mails? Indo mais longe: é justo a pessoa que usa o PC para trabalhar ter o seu trabalho prejudicado porque o bairro todo está descendo vídeos piratas pela internet?
A responsabilidade de garantir que a infraestrutura seja capaz de atender à demanda é responsabilidade de quem lucra vendendo o acesso, não dos usuários que pagam para usar o serviço.
Se o acesso do trabalhador é prejudicado porque há congestionamento na infraestrutura, a culpa não é dos usuários que estão usando o serviço de acordo com os termos contratados. A culpa é da operadora, que ganhou rios de dinheiro vendendo mais largura de banda do que tinha para oferecer e prefere não investir em uma infraestrutura melhor.
variedades escreveu:Quase no mundo todo é cobrado por franquia e este é o meio mais justo de cobrar pela internet. Quem usa mais paga mais, quem usa menos paga menos. Isso vai permitir que pessoas normais, como nós, possamos ter ruma internet de 50Mb de velocidade, por exemplo, com baixa franquia. Dai a pessoa que pouco usa se beneficiará de um acesso de alta qualidade.
Não vejo justiça nenhuma nesse raciocínio e na verdade ele me parece bem equivocado.
Primeiro, porque uma conexão de 50MB/s não vai trazer qualquer benefício real para usuários que só acessam e-mails e consomem pouco ou nenhum conteúdo de mídia. Se o tempo de resposta for adequado e a conexão for estável, 5MB/s são muito mais do que suficientes para abrir e-mails e navegar na internet.
E eu digo isso com conhecimento de causa, porque no momento a única conexão disponível na minha região é o ADSL de 5MB/s da Oi (e tive que esperar um ano e meio por isso). Com ela eu consigo trabalhar, assistir Netflix com boa qualidade, jogar online, baixar arquivos grandes e tudo o mais que quiser fazer.
Uma largura de banda maior só vai beneficiar
de verdade quem realmente consome grandes volumes de dados. Do contrário, você estará pagando integralmente por um serviço que só vai ser parcialmente utilizado. No fim das contas, megabyte por megabyte, eu aposto os meus dois dentes da frente que não sairia mais barato de jeito nenhum.
Segundo, porque o perfil de utilização muda ao longo do tempo, e o que hoje você considera como uma solução ideal amanhã pode se revelar um tiro no próprio pé.
Na casa onde hoje mora um casal que só acessa a internet para pra ler e-mails ou abrir meia dúzia de sites de vez em quando (porque trabalho, filhos e outras obrigações não deixam muito tempo livre), daqui a alguns anos morarão também dois adolescentes jogando online e baixando todas as tetas do planeta, talvez um aposentado vendo Netflix o dia todo e assim por diante.
variedades escreveu:Porque sejamos francos: não existe largura de banda para todo mundo usar no "talo", no máximo da velocidade o dia todo.
Sejamos francos: quando uma companhia aérea vende 120 passagens em um voo com 100 lugares, não existe poltrona para todo mundo embarcar naquele voo. Mas elas fazem isso mesmo assim, para maximizar os lucros, e se isso é inconveniente para os usuários afetados, eles que se lasquem.
O que as operadoras fazem é mais ou menos a mesma coisa. É estatisticamente improvável que todos os usuários utilizem o serviço "no talo" o tempo todo, então as operadoras buscam maximizar seus lucros vendendo o acesso a um número de usuários muito maior do que a capacidade nominal da rede permitiria (e garantindo a cada um apenas uma fração mínima do desempenho contratado, o que é simplesmente ridículo, tratando-se de serviço de concessão pública).
O acesso à Internet deixou de ser luxo faz tempo.
TODOS os serviços básicos têm picos de uso em certas regiões em certas épocas - energia elétrica, água. No caso dos transportes, temos picos de uso o ano inteiro e em horários específicos - e na internet também.
Quando a infraestrutura não acompanha a demanda, as consequências são desastrosas. Temos racionamento, tarifação mais alta a partir de certo consumo, rodízios, apagões e torneiras secas, congestionamentos...
Todos nós reconhecemos que essas situações são sempre o resultado da ingerência e do descaso.
A única solução para esses problemas é garantir que a infraestrutura seja capaz de acompanhar a demanda.
Racionar o acesso à Internet na forma de franquias não resolve o problema. O único efeito garantido dessa medida seria autorizar as operadoras a venderem a mesma infraestrutura a um número ainda maior de usuários.
Seria uma canetada para que elas pudessem multiplicar seus lucros sem o compromisso de investir um único centavo na ampliação e melhoria do sistema. Nesse cenário, qual exatamente é o benefício para nós, consumidores?
variedades escreveu:Não existe almoço de graça, todos temos que pagar pelo serviço. Enquanto não tiver franquia os 5% de usuários "pesados" faziam a internet toda praticamente paralisar e ficar lenta pra caralho.
Todos pagamos pelo serviço, e pagamos bem caro, por sinal.
E o que faz a Internet ficar lenta não são usuários "pesados".
É a safadeza de um governo que taxa tudo e não dá nada em troca, além de ser conivente com a ganância das empresas que esfolam o consumidor Brasileiro, cobrando caríssimo por produtos e serviços defasados e com pouca ou nenhuma consideração pela qualidade.
Claro que isso não acontece só com o acesso à Internet, mas é o exemplo mais relevante para a discussão. Acho que ninguém aqui discorda que, desde que foi criada, a nossa Agência Reguladora está deitada eternamente em berço esplêndido e não levanta de lá por nada.
Em 2007, estive em Madrid a trabalho por quatro meses. Vi em vários jornais as manchetes falando sobre os lucros estupendos da Telefónica - que à época oferecia um ADSL de 2 megabits/s em São Paulo por R$ 121,00 mensais. Em Madrid, porém, eles vendiam ADSL de 4 megabits/s + telefone fixo com ligações ilimitadas para outros fixos NO PAÍS INTEIRO + Celular... tudo por 15 euros.
Claro, isso é informação defasada em uma década, mas se você for agora no site da Movistar (também na Espanha) vai encontrar um pacote de conexão por fibra (300 mb/s download, 30 mb/s upload) + fixo ilimitado (país inteiro) + 550 minutos para celular por 27 euros, o que equivale a R$ 99,00 - menos do que eu pago hoje no meu ADSL podre de 5 mb/s.
Ah, e é sem fidelidade e com instalação grátis.
Enquanto isso, um dos combos mais "modestos" da Vivo por aqui oferece ADSL 50 mb/s (down), 5 mb/s (up), fixo local + celular vivo local ilimitado + Celular (250 minutos, 6GB de dados) por R$ 295,00.
Com um ano de fidelidade, claro.
variedades escreveu:Vejo isso na prática, tenho servidores hospedados em datacenter no Brasil e se não colocar franquia no servidor pega 10 imbecis abrindo sites piradas acaba com a banda de outros 200 servidores.
Se 10 usuários conseguem esgotar a banda de rede que deveria ser suficiente para atender a 200 servidores, isso indica que a banda disponibilizada para os 200 servidores está extremamente subdimensionada.
Faz algum sentido culpar os usuários pelas escolhas que as empresas fazem para cortar custos?
Eu acho que não.
Faz algum sentido penalizar os usuários, que são a razão de ser de toda a Internet, só para aumentar os lucros das operadoras e permitir que as empresas economizem uns trocados em suas despesas operacionais?
Eu acho que não.
variedades escreveu:E não adianta dizer para "então fazer mais banda", custa por vezes centenas de milhões de dólares para fazer aumento em backbones.
Investir em infraestrutura para acompanhar a demanda custa caro, sim.
Só que também se traduz em mais disponibilidade, mais acesso, mais clientes, mais negócios e mais receita. É bom pra todo mundo.
Em 2007, a Telefónica São Paulo investiu pouco mais de 2 bilhões de reais... e obteve como resultado uma receita operacional LÍQUIDA de quase 15 bilhões de reais no mesmo ano. Lucros históricos para a empresa.
Mas por aqui no Brasil rola um lance cultural lamentável, uma ideia de que ser um empresário de sucesso é arrancar do negócio cada centavo de lucro possível, e gastar nele o mínimo necessário para que não feche as portas e pare de funcionar.
Não se investe em estrutura, não se investe em conhecimento, não se investe em tecnologia, não se investe em satisfação do cliente. Tudo isso é custo e risco, o importante mesmo é andar de carrão e ostentar.
Isso não é traço de empreendedorismo, nem prova de sucesso. É falta de visão mesmo.
variedades escreveu:A longo prazo a inexistência de franquias empurra o Brasil para o mesmo modelo dos demais países que não possuem franquia: uma universalização maior do sistema mas todo ele baseado em links de baixa velocidade, de 2 megas, 5 megas. Penso bem talvez isso seja mais importante para o Brasil hoje do que liberar contratos com franquias e altas velocidades.
Considerando que existe uma enorme demanda reprimida, acho que é mesmo mais importante ampliar a infraestrutura para cobrir regiões onde o acesso não está disponível.
A meu ver, as franquias não fazem nada para melhorar as coisas. Elas só servem para racionar a infraestrutura que já existe para poder pendurar mais usuários nela.
Eu tive que esperar um ano e meio para ter um telefone fixo e uma conexão de 5 mb/s no meu endereço atual. A única outra opção era contratar uma conexão via rádio por um provedor local, a preços astronômicos.
Com franquias, provavelmente teria sido ainda pior, pois o mesmo link que eles enrolaram tanto pra instalar e que hoje suporta 36 casas não teria sido instalado até ter uns 100+ interessados. Ainda vai levar alguns anos para isso acontecer por aqui.
Por que eles gastariam dinheiro com isso se pudessem simplesmente multiplicar o número de clientes em áreas mais densas a custo zero?